Se você não esteve em Marte no último ano, então já deve ter ouvido falar sobre AJAX (Asynchronous JavaScript and XML), que também atende pelos nomes de Remote Scripting ou Script Callback, uma técnica de desenvolvimento de aplicações Web que permite, basicamente, que uma página faça requisições ao servidor Web via JavaScript, sem a necessidade de atualizar a página inteira, o que pode tornar uma aplicação web mais rica, rápida, interativa e dinâmica para o usuário, deixando-a mais parecida com uma aplicação desktop, o que proporciona uma melhor usabilidade.

Mas qual o segredo do AJAX? Bem, não há segredo algum. Ele utiliza tecnologias que já estão por aí há um bom tempo, como JavaScript, DHTML, XML e XMLHttpRequest, responsável pelo envio e recebimento de dados do servidor. Na verdade, nem o uso de XMLHttpRequest é necessário, já que poderíamos obter um resultado parecido utilizando-se iframes. Como se vê, são tecnologias que qualquer desenvolvedor web que se preze conhece (ou pelo menos deveria conhecer). Assim, AJAX é mais uma arquitetura do que uma novidade.

Então, por que tanta badalação em torno desta sigla? Ao meu ver, são dois os principais motivos: o primeiro é que agora todos os browsers mais recentes (IE, FireFox, Netscape, Opera, Konqueror, Safari, etc) de todas plataformas (Windows, Unix, Mac, etc) suportam a utilização do objeto XMLHttpRequest, que originalmente foi criado pela Microsoft como um componente ActiveX e que, antigamente, era exclusivo do IE. Aliás, a Microsoft anunciou recentemente que, a partir do IE 7.0, o objeto XMLHttpRequest será exposto como um objeto de script nativo, ou seja, não será mais um controle ActiveX, o que tornará o IE mais compatível com os outros browsers. O segundo motivo é a utilização maciça que o Google vem fazendo em seus produtos (como o Google Maps, GMail e Google Suggest, entre outros), que deu uma visibilidade grande para a técnica.

O grande problema que vejo quando há muito hype em torno de alguma tecnologia nova é que a coisa foge do controle e logo começa a aparecer muita besteira sobre o assunto. Com o AJAX não poderia ser diferente e já se vê por aí o efeito negativo da superexposição. Um exemplo disso é a matéria publicada neste mês na Info Exame (sobre a qual já escrevi minha opinião em outro post), que tem o Google como matéria de capa, e cujo o título é “AJAX dá dinheiro?”. A conclusão da matéria é que o AJAX ainda não é uma mina de dinheiro, mas é possível ganhar, em média, entre e 20% e 25% a mais ou, segundo um funcionário de uma consultoria, o profissional que domina o AJAX pode até mesmo dobrar seu salário! Além disso, 2006 deve deixar o mercado aquecido para os conhecedores do AJAX. E lá se vão as ovelhinhas aprender a última moda…

Percebam aí que há uma combinação explosiva: um assunto da moda, uma publicação cuja credibilidade é duvidosa, pessoas desinformadas e pronto! A besteira está feita! Será que alguém realmente acredita que o fato de “saber” AJAX (que utiliza tecnologias que um desenvolvedor web já domina há um bom tempo) irá trazer milhares de propostas de emprego e rios de dinheiro? E as empresas que procuram por especialistas em AJAX, será que realmente sabem o que essa sigla significa e sabem o que querem ou somente estão seguindo um modismo e depois de algum tempo irão perceber o quanto foram ignorantes? E as consultorias, ao invés de ajudarem seus clientes a entender o que tudo isso significa, não estariam interessadas na ignorância dos mesmos para que assim consigam “vender” mais consultores e ganhar mais dinheiro? Tudo termina da seguinte maneira: a empresa finge que sabe o que quer e se sente moderna por “estar utilizando” uma tecnologia da moda e o profissional finge que conhece e todos vivem felizes… e assim caminha a humanidade.

Não estou criticando o AJAX, e acho que o mesmo tem o seu valor e muitas das idéias que ele traz, de fato, irão contribuir para melhorar a experiência do usuário em relação às aplicações web. O que me deixa preocupado é quantidade de pessoas que não sabem o que falam.

Ricardo Oneda.