A maior transação dos últimos tempos envolvendo empresas .COM, a aquisição do YouTube pelo Google, pela pechincha de US$ 1,65 bilhões em ações, está dando o que falar. Estaríamos voltando ao tempo da bolha da Internet, quando empresas recém criadas conseguiam grandes investimentos de fundos de capital de risco, ansiosos pela promessa de retorno fácil e rápido na busca de “O” próximo grande site, mesmo que essas empresas não tivessem uma idéia tão original assim ou que só dessem prejuízo, valorizando-as artificialmente? Acho que não, pois os tempos são outros e não se nota uma corrida insana atrás de start-ups com potencial, como podia ser percebido no final da década de 90 do século passado.
Conseguirá o Google tornar o YouTube rentável e ainda administrar a fúria dos defensores dos direitos autorais, que acusam o YouTube de incentivar a pirataria? Bem, não é uma tarefa muito fácil, mas digamos que com o Google dando suporte, ficando um bocado mais fácil.
Devaneios a parte, o que mais chamou minha atenção em tudo isso é que se formos analisar bem esse negócio, o que o Google adquiriu foi a comunidade do YouTube! Quem desenvolve o conteúdo desse site são as pessoas, seus próprios usuários, que acabam gerando uma comunidade em torno dele. Simples assim. O YouTube não produz um conteúdo ou produto específico, mas oferece oportunidade para que os usuários os criem e compartilhem. Isso mostra uma coisa: os usuários são cada vez mais o centro dos serviços e produtos na web. Há uma oportunidade imensa para as empresas explorarem isso, não importando se são empresas .COM ou não.
Agora, imagine se a Microsoft tivesse adquirido o YouTube, o que você acha que aconteceria? Os xiitas acusariam-na de monopólio e de querer conquistar o mundo. Mas com o Google é diferente, pois ele é uma espécie de queridinho da Internet, a salvação da humanidade contra o mal personificado pela Microsoft. Nesse aspecto, quando o Google adquire empresas que têm potencial e que podem contribuir com algum de seus produtos, ele tem adotado comportamento semelhante ao da Microsoft (tática na qual não vejo nenhum problema). Mas já tem gente especulando um possível processo do departamento de justiça dos EUA contra o Google por… monopólio! Não acredito que seja o caso. Particularmente, acho que Microsoft e Google chegaram onde estão por méritos próprios, são empresas inovadoras e competentes que, conseqüentemente, acabam conquistando mercado. Vamos ver até quando o Google consegue manter o estigma de defensor dos fracos e oprimidos. Provavelmente isso se dará até a maioria de seus defensores perceber que, como qualquer empresa, ela busca o lucro (e isso não é tão difícil de se perceber, principalmente depois desta semana). E que venha a GoogleTV!
Ricardo Oneda.