Outro dia, estava lendo uma notícia que dizia que, dos computadores vendidos com o sistema operacional Linux, somente 25% permaneceram com o sistema. Os demais 75% tiveram o sistema trocado para Windows em até três meses após a compra do computador. Pois bem, fui testemunha deste fato.
Uma família que conheço adquiriu recentemente um computador. Como eles se enquadram na categoria de usuários, ou seja, não conhecem detalhes técnicos de informática, estavam tendo alguns problemas com a instalação e me pediram uma ajuda. Ao chegar na casa deles, deparei-me com uma tela com a mensagem de erro e o prompt do sistema operacional, solicitando a senha do usuário root. Nesse momento, percebi que se tratava de um computador rodando Linux. O problema estava ocorrendo porque tentaram instalar um aplicativo Windows no Linux. Como Linux não é a minha praia, resolvi reinstalar o sistema pelo CD de recuperação que veio junto com o computador. O processo de instalação, ao contrário do que esperava, mostrou-se extremamente fácil e rápido, e logo o computador já estava funcionando. Expliquei para eles que, como o computador rodava Linux, não seria possível executar aplicativos Windows nele. As versões para Linux dos softwares deveriam ser adquiridas e então instaladas. Aí que começaram os problemas, já que os aplicativos que eles queriam instalar eram todos para Windows. Internet? Sem chance, já que o discador que eles tinham era para Windows. Nem a multifuncional que compraram poderia ser instalada, já que só havia drivers para Windows. Para resumir a história, no final, eles já estavam decididos que iriam instalar o Windows.
Imaginem a quantidade de pessoas que não entendem detalhes técnicos de informática e que acabam se frustrando por causa de acontecimentos como esse. Atraídas pelo preço mais baixo, acabam comprando gato por lebre, já que não sabem quais as implicações de se adquirir um computador com Linux ou com Windows, afinal, o que elas querem é ligar e usar, sem se preocupar com detalhes, código-fonte, etc. Uma iniciativa cuja intenção é nobre (inclusão digital, maior acesso a informação, etc) acaba criando uma série de problemas. O primeiro é que, na visão dessas pessoas, o Linux é o culpado e ficará com fama de porcaria. Além disso, aposto que, no mínimo, 90% das cópias de Windows instaladas em máquinas que vieram com Linux são piratas. Isso acaba incentivando essa indústria, que por sua vez acaba estimulando uma série de atividades criminais, trazendo problemas sociais e econômicos, sem falar no que o Estado deixa de arrecadar em impostos. Se a pessoa fizer parte da minoria que opta por comprar uma versão original do Windows, ela também acabará pagando mais do que se tivesse comprado o Windows com o computador, já que esta versão vendida junto ao hardware, chamada de OEM, é mais barata que o Windows vendido na prateleira da loja. Enfim, todos perdem.
Como o computador está sendo tratado como eletrodoméstico (o que, na minha opinião e no estágio atual, é uma visão equivocada, mas que tende a se tornar realidade no futuro), as lojas que os vendem deveriam estar mais preparadas para explicar essas diferenças aos seus clientes e suas implicações. Não importa se o cliente quer Windows ou Linux. O que importa é que seja uma decisão consciente.
Ricardo Oneda.