O assunto que tomou conta da semana, sem dúvida, foi o anúncio de que a Microsoft comprou a divisão de telefones da Nokia por mais de 5 bilhões de euros (a Nokia vai continuar a existir, mas fabricando equipamentos de rede, serviços baseados em localização e patentes). Há tempos circulavam boatos de que isso poderia acontecer, já que a Nokia era a principal parceira da Microsoft no campo de telefones e que havia apostado todas suas fichas no Windows Phone. O negócio é mais um passo na mudança do modelo de negócios da Microsoft em direção a se tornar uma empresa de “dispositivos e serviços”, que se iniciou com o Surface. Se vai dar certo ou não, é uma história totalmente diferente, mas pelo menos a Microsoft está sendo coerente com sua estratégia.

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Se Stephen Elop, até então CEO da Nokia, já era o nome mais cotado para assumir a Microsoft com a aposentadoria de Steve Ballmer, principalmente por já ter sido um alto executivo da empresa antes de ter ido para a Nokia, agora de volta como vice-presidente, as chances são altas de que isso se confirme, mas vamos ter que aguardar em torno de 12 meses para saber.

Agora, o mercado de dispositivos móveis tem seus principais players assim divididos: Apple com iOS, Google + Motorola com o Android, Microsoft + Nokia com Windows Phone e Samsung. Interessante notar que somente a Samsung não possui um sistema operacional e serviços, ficando somente com o hardware. Será que a empresa sul-coreana pretende fazer algo a respeito?

Mas a notícia que mais me chamou atenção mesmo saiu um dia antes do negócio entre Microsoft e Nokia, mas acabou sendo ofuscada. A notícia de que aparelhos da Nokia com Windows Phone já estão atingindo 8% das vendas em alguns países importantes da Europa (Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Espanha) e também vem ganhando terreno em vários outros países ao redor do mundo. Há tempos que a participação do Windows Phone no mercado tem aumentado, pouco a pouco, é verdade, mas tem mantido um ritmo de crescimento. Entretanto, parece que agora começa a ganhar um impulso maior. Um fato que acho relevante destacar é que nós, que trabalhamos com tecnologia, já estamos habituados com smartphones e tablets no nosso dia-a-dia, na maioria da vezes com aparelhos da Apple ou rodando Android. Some-se a isso  a questão de que as principais fontes de notícias que costumamos usar virem dos EUA, onde a Apple domina, e temos a percepção de que o iOS e o Android já dominaram o mercado de dispositivos móveis, não havendo espaço para outras alternativas. Devemos tomar cuidado, pois essa é uma percepção que só é em parte verdadeira.

iOS Windows Phone Android

Claro, é indiscutível que atualmente Android e iOS dominam o mercado, mas o que muita gente se esquece ou não sabe é que menos da metade dos telefones celulares em uso no mundo são smartphones. Ou seja, estamos no começno de um mercado que ainda tem muito para crescer. Acontece que a maior parte desse crescimento vai acontecer em países emergentes ou em desenvolvimento, como o Brasil. Em outras palavras, países onde a população tem um poder econômico menor que a dos países mais desenvolvidos, onde os smartphones já estão mais consolidados. Ou seja, para essas pessoas, o preço dos aparelhos é um fator importante (por que vocês acham que a Apple, segundo boatos, está prestes a lançar uma versão mais barata do iPhone?). E muitas dessas pessoas estão começando a adquirir seus primeiros smartphones agora. E aqui vem a boa notícia para a Microsoft: o Windows Phone tem se mostrado a plataforma preferida para aquelas pessoas que vão adquirir seu primeiro smartphone, superando aparelhos da Apple ou com Android. 42% de quem adquire seu primeiro smartphone compram um Windows Phone. Muita dessa preferência, suponho, deve vir da força que a marca Nokia possui ao redor do mundo, já que é a segunda maior fabricante mundial de celulares, perdendo somente para a Samsung (volto a destacar: o mercado dos EUA é muito particular, não pode ser utilizado como modelo para o que ocorre com o resto do mundo; lá, a Apple domina e a Nokia é mais fraca, exatamente o contrário do que ocorre ao redor do mundo). E os modelos que têm provocado esse aumento de vendas de smartphones com Windows Phone são os chamados de “entrada”, ou seja, modelos mais baratos, como o Nokia Lumia 520.

Resumindo, se esse ritmo continuar, a tendência é que a participação do Windows Phone aumente muito, tornando-se de fato uma terceira alternativa viável. Vai superar a Apple? Provavelmente. Vai superar o Android? Dificilmente. Mas acredito que vá garantir uma participação de mercado que não poderá ser ignorada. Acredito que é nisso que a Microsoft aposta. A esperança dela é crescer entre aqueles que ainda não têm um smartphone, principalmente nos mercados menos desenvolvidos, e que vão comprar um modelo mais barato. Se isso realmente acontecer dessa maneira, poderemos dizer que o Windows Phone será uma plataforma relevante. Se não der certo, aí sim poderemos dizer que a Microsoft fracassou no campo da mobilidade.